Este artigo refaz o discurso proferido por Benjamin de Molliens durante a primeira edição da UX-Conf com o tema “Human First”.
Benjamin de Molliens, um bretão de 35 anos, agora radicado em Marselha, marcou o início da primeira edição da UX-Conf abordando um tema de crucial importância: o lugar da tecnologia digital responsável e da ética na nossa sociedade contemporânea. Ele levantou uma questão fundamental: a tecnologia digital, uma ferramenta incrível e formidável em termos de benefícios sociais e ambientais.
Conhecimento
Durante três anos, Benjamin colocou a sua paixão pela exploração e aventura desportiva ao serviço daquilo que considera ser a sua missão de vida: tornar a sobriedade voluntária popular. Uma sobriedade que pretende distinguir da pobreza, preferindo a ideia de que devemos “viver com menos, mas não viver menos bem”.
No entanto, o caminho de Benjamin para esta busca pela sobriedade nem sempre foi o seu. Há alguns anos, ele perseguia seu maior sonho: trabalhar na área digital no Vale do Silício, em São Francisco, o epicentro do sonho americano. Ele aspirava a uma vida melhor, a acumular mais bens materiais e a ganhar mais para subir na escala social. Este sonho foi alimentado por uma visão social ultrapassada onde o sucesso era sinônimo de acumulação material.
Durante esse tempo, Benjamin conseguiu manter o equilíbrio entre seu trabalho e sua paixão pelo kitesurf na Baía de São Francisco. Foi aí que começou a encontrar resíduos regularmente, mesmo numa cidade conhecida pela sua gestão de resíduos. Depois de alguma pesquisa, ele descobriu uma estatística alarmante: a cada minuto, 20 toneladas de resíduos plásticos são despejadas no oceano, o equivalente a uma lixeira. Essa constatação o atingiu como um soco no estômago e criou uma dissonância entre seu trabalho voltado para o desempenho e a realidade de uma praga que estava destruindo o que o fazia mais feliz, o oceano. Uma dissonância que gradualmente se transformou em depressão, levando Benjamin a deixar Silicon Valley para regressar a França e participar na luta contra a poluição.
Seu compromisso começa junto com o projeto Plastic Odyssey, uma iniciativa ousada que visa viajar pelo mundo de barco para divulgar soluções de reciclagem e redução de resíduos adaptadas a cada economia nacional. Estas soluções tinham que ser simultaneamente “Low Tech”, fáceis de fabricar, utilizar e reparar, e “Open Source”, livres de patentes para que todos pudessem beneficiar delas. No entanto, passados três anos, Benjamin percebeu que a tecnologia, por mais complexa que fosse, não seria suficiente para resolver a crise ambiental até que os nossos comportamentos e estilos de vida mudassem.
“A tecnologia, desde a revolução digital, sim resolveu problemas, mas sobretudo deslocou novos problemas exponenciais. Portanto, devemos acima de tudo trabalhar nos humanos, na nossa imaginação. Mude nossos sonhos., sublinhou Benjamin durante seu discurso.
O digital, tal como outros setores, contribui para as alterações climáticas. Em 2013, representou 2,3% das emissões globais de CO2, tanto quanto o transporte aéreo. Hoje, este número aumentou para 4% e, sem acção ou mudança da nossa parte, atingirá 8% entre 2030 e 2040. A urgência é palpável.
Agindo
A solução está na redução das emissões de CO2, e para isso é fundamental medir a pegada de carbono individual de cada um de nós. Em França, em média, cada indivíduo emite 10 toneladas de CO2 por ano, menos que as 16 toneladas dos americanos. No entanto, o acordo de Paris, assinado durante a COP21 em 2015, visa reduzir esta média para 2 toneladas por ano por pessoa, a fim de reduzir significativamente as emissões de CO2.
Benjamin, que se considera um ambientalista, percebe que sua pegada pessoal de carbono era de 16 toneladas por ano, em grande parte devido à sua paixão pelo kitesurf no Havaí, pilotar aviões e fazer churrasco. Ele aponta o dedo à sociedade moderna, influenciada pelas redes sociais e influenciadores, que glorifica este modo de vida como sinónimo de sucesso. Diante do ceticismo das pessoas próximas a ele em relação às suas preocupações, ele decide agir substituindo a culpa pela alegria, contando uma história positiva e inspirando outros a agir.
Para convencer aqueles que o rodeiam, Benjamin recorre à paixão que partilham pela aventura. Ele lança o projeto “Expedição Zero” com três regras fundamentais: zero desperdício (em particular zero plástico), pegada de carbono zero (privilegiando o trem e a bicicleta em vez do avião), e zero equipamento novo (para limitar o consumo excessivo). No espaço de três anos, liderou cerca de dez Expedições Zero em diversas modalidades esportivas para atingir um público amplo. Benjamin acredita que o esporte é uma forma poderosa de inspirar as pessoas e mostrar-lhes que uma vida sóbria pode ser igualmente emocionante.
Sua iniciativa também tocou as pessoas no dia a dia. Durante o segundo confinamento, em novembro de 2020, criou a hashtag #limpeseukm nas redes sociais, incentivando os franceses a limparem suas casas. Esta tendência está a tornar-se viral para além das fronteiras francesas. A partir desta experiência, Benjamin lança outros desafios que visam incentivar as pessoas a reverem o seu estilo de vida, a sua alimentação e a utilização da Internet através de pequenos gestos. O objetivo não é apenas reduzir as emissões de CO2, mas também mostrar os benefícios diretos da sobriedade: melhor bem-estar mental, melhor saúde, mais tempo livre e poupança financeira.
“Seja a mudança que você quer ver no mundo!” »
Hoje, Benjamin descreve a sua vida como sendo mais simples, mas também mais feliz, no respeito pelos seres humanos e pelo meio ambiente. Ele acredita firmemente que criar um movimento é a chave para construir uma realidade sustentável para todos. Milhões de “ambientalistas imperfeitos” podem ter um impacto muito maior do que alguns ambientalistas puros. É por isso que Benjamin, com o seu sócio, criou uma agência que visa integrar noções de sobriedade nos negócios através de conferências, workshops e desafios.
O primeiro passo crucial para esta realidade é a conscientização e questionando nosso próprio comportamento. É preciso treinar, porque conhecimento é poder, e é preciso medir para agir. Finalmente, devemos agir e nos unir para criar um movimento popular.
Benjamin de Molliens também propõe a regra 5R:
- Recuse: pense no que realmente precisamos.
- Reduzir: limitar nosso consumo.
- Reutilizar/Reparar: evite a obsolescência e priorize o reparo.
- Reciclar: dar nova vida aos objetos.
- Repensar: projetar soluções mais eficientes em termos energéticos e mais simples para os usuários.
Concluindo, Benjamin aspira tornar obsoleto o sonho americano em benefício da “Sonho Sustentável”, um sonho onde a sobriedade, a consciência ambiental e o bem-estar ocupam o centro das atenções. Sua jornada nos lembra que cada um de nós pode fazer a diferença refletindo sobre as nossas ações e escolhendo caminhos mais responsáveis para o futuro do nosso planeta. Como disse Gandhi: “Seja a mudança que você deseja ver no mundo!” ".
>> Baixe a mídia da palestra de abertura da UX-Conf – Human First
Leslie Djaoual,Designer de UX/UI – UX-Republic