Repensar o crescimento e a inovação sustentável, os novos desafios do design e dos designers
A transformação das empresas em termos de sustentabilidade e eco-responsabilidade dos produtos ou serviços que oferecem aos consumidores e usuários, bem como do seu próprio modelo, é hoje um grande desafio, principalmente diante das crescentes demandas ambientais e sociais. Durante a mesa redonda de 30 de janeiro de 2025 em Lyon, discutimos vários pontos-chave com nossos convidados e, assim, destacamos as novas posições, desafios e oportunidades que empresas e designers enfrentam em seu trabalho para projetar e entregar produtos e serviços mais sustentáveis.
Vamos repensar o crescimento para um modelo mais sustentável e regenerativo
O debate sobre crescimento é crucial no digital. Em vez de usar o termo "crescimento", é melhor falar sobre lucratividade e viabilidade a longo prazo. Para uma empresa, a questão não é apenas ser lucrativa imediatamente, mas encontrar um modelo econômico que faça sentido e seja viável ao longo do tempo. Essa é uma perspectiva que também preocupa os investidores e o setor financeiro. Fundos de investimento e bancos estão começando a considerar alternativas que lhes permitam obter retorno sobre o investimento em dez ou quinze anos, em vez de lucratividade em curto prazo.
O crescimento, como é entendido hoje, é baseado em um sistema de crenças coletivas. É difícil questionar esse paradigma porque ele está ancorado no inconsciente coletivo e condiciona decisões econômicas e estratégicas. Alguns atores estão defendendo o decrescimento ou o pós-crescimento para reequilibrar nosso modelo econômico. O conceito de “crescimento verde”, que visa limitar os impactos ambientais enquanto continua a crescer, é visto por alguns como uma contradição. No entanto, ao adotar uma abordagem baseada na resolução de problemas do mundo real, é possível transformar as expectativas dos negócios e oferecer alternativas viáveis ao crescimento infinito.
Essa mudança exige táticas adaptadas: trabalhar em projetos concretos, identificar alavancas para transformação e integrar novos modelos de análise econômica para tornar a lucratividade e a sustentabilidade atraentes.
O desafio para empresas e designers: conciliar inovação e sobriedade
Um dos exemplos mais marcantes da integração da eco-responsabilidade no design de produtos é o da Orange e do seu Livebox, como vimos acima, na parte 1.
No entanto, essa abordagem esbarra em restrições de mercado e demandas cada vez maiores, que pressionam pela integração de novos recursos, aumentando assim a pegada de carbono das novas versões. O desafio é conciliar inovação e responsabilidade ambiental, e saber como continuar a transição para um modelo mais responsável sem comprometer o crescimento econômico.
Para as empresas, um dos maiores desafios na transição para produtos mais sustentáveis é o custo de produção. Adotar uma abordagem ecológica significa respeitar especificações rigorosas, desacelerar os ciclos de produção, garantir condições de trabalho éticas e limitar o impacto ambiental. Tudo isso resulta em custos mais altos. Ao repensar seus modelos de negócios e integrar princípios de sustentabilidade, eles podem reduzir custos ocultos e melhorar sua eficiência geral.
Para designers e designers de produtos, e especialmente designers digitais, eles têm um papel vital a desempenhar nessa transição. Em vez de adicionar constantemente novos recursos, uma abordagem mais responsável seria simplificar, otimizar e, às vezes, até reduzir o uso digital.
Não se trata simplesmente de tornar a tecnologia digital “mais verde”, mas de repensar fundamentalmente sua utilidade. O paradigma atual, que busca criar desejo e incentivar o consumo, deve dar lugar a uma abordagem mais direcionada, onde as reais necessidades dos usuários sejam atendidas acima de tudo.
Ao reorientar o design para o essencial, geramos externalidades positivas: reduzindo a pegada ecológica, melhorando a experiência do usuário e contribuindo para um modelo econômico mais sustentável.
Compreendendo novos usos e expectativas do consumidor
Os consumidores estão cada vez mais sensíveis às questões ecológicas, mas seu comprometimento continua condicionado ao valor percebido dos produtos. Pesquisas de mercado mostram que 20% dos consumidores estão dispostos a pagar mais por um produto ecológico. No entanto, vivemos em um mundo dominado pelo volume e pela busca pelo menor preço. Essa tensão entre o consumo de massa e a busca por significado está levando as empresas a redefinir sua abordagem, retornando aos valores locais e práticas mais virtuosas.
Crises sucessivas reforçaram essa tendência: os consumidores buscam cada vez mais soluções enraizadas em seu território, promovendo assim uma certa forma de desglobalização e protecionismo. Empresas icônicas como Leroy Merlin e Michelin construíram seu sucesso permanecendo profundamente enraizadas em sua região, ao mesmo tempo em que adotavam uma visão humanista e responsável.
Um exemplo marcante dessa evolução é a mudança da propriedade para o uso, especialmente em roupas prontas para vestir. Cada vez mais consumidores buscam diversidade de roupas sem acumular roupas descartáveis. Eles têm duas opções: comprar roupas baratas em grandes quantidades ou priorizar o uso em vez da posse. Neste último caso, as roupas devem ser de melhor qualidade para serem reutilizadas, o que promove uma produção mais sustentável.
Este modelo combina, assim, economia circular, qualidade e acessibilidade financeira, e ilustra perfeitamente como uma necessidade inicial – acesso a uma diversidade de vestuário a um custo mais baixo – pode ser satisfeita integrando questões de sustentabilidade.
Do “User Centric” ao “Green Centric”, a evolução necessária do Design

O design sempre foi centrado no usuário, mas é hora de expandir essa abordagem para integrar também os impactos ambientais e sociais à experiência do usuário. Design centrado no usuário et responsável. O desafio é, portanto, ampliar o pensamento.
A transformação dos negócios e dos produtos que eles projetam sempre será baseada em uma compreensão detalhada das necessidades dos usuários, mas também nas questões sistêmicas que os cercam.
O verdadeiro desafio do design responsável é conectar a experiência do usuário a práticas sustentáveis de forma concreta. O objetivo não é opor desempenho econômico e responsabilidade, mas mostrar que ambos podem se reforçar mutuamente.
Ao integrar essas considerações ao design de produtos e serviços, podemos criar soluções que beneficiam usuários, empresas e o planeta.
Não é uma restrição, mas uma oportunidade de inovação e impacto positivo. E, acima de tudo, é uma mensagem de esperança: ao alinhar nossas práticas com valores sustentáveis, estamos abrindo caminho para um futuro mais justo, equilibrado e harmonioso, benéfico para todos (Humanos, Seres Vivos, Planeta). 😊
Leia o artigo Parte 1: Normas e regulamentações: design sistêmico e suas ferramentas para transformação empresarial sustentável
Nossos especialistas convidados:
- Clémence Piteau, cofundadora da comunidade de designers éticos de Lyon, lle trabalha como designer independente comprometido com um mundo digital emancipatório e respeitoso com o meio ambiente, os indivíduos e a sociedade.
- Jeremy Dumont, Planejador Estratégico e fundador do Coletivo “We are alive”, por iniciativa deworkshops e afrescos como o afresco das imaginações, emoções e eco-ansiedade, e o Business Model Canvas da Empresa Regenerativa
- Fabrice Liut, cofundador e sócio da TheTandem Ele acompanha líderes e C-levels em sua visão, estratégias e gestão operacional durante momentos-chave de sua transformação.
- Elodie Bert, Designer Sênior de UX e Designer de Produto na UX-Republic, Animação da mesa redonda
Elodie Bert, Designer UX/UI na UX-Republic